sábado, 29 de janeiro de 2011

Era uma vez... II

Ainda que dolorosamente, depois de cortar-se, a menina pequenina continuou a sua demanda em torno do novelo de fio de aço. Mesmo sangrando, sentia a necessidade imperiosa de prosseguir, de terminar, e transformar o metal finíssimo num círculo. Fechado, acabado, perfeito, para que pudesse admirar o seu feito, de dentro de si mas fora da forma de aço.
O fio cantava-lhe melodias ora  maviosas, ora assustadoras. Os pequenos-grandes olhos de ébano enchiam-se de lágrimas, para logo de seguida sorrirem, com aquele ar de anjo que ouve cânticos do Céu. O percurso é um tortuoso carrocel, orientado por uma bússola impassível, como tudo o que rodeia a petiz de fora do seu círculo de si. Ainda assim, as pequeninas mãozinhas cor-de-cera continuam, debelando a rebeldia do fio, do grande novelo de fio de aço.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Era uma vez...

Uma menina, pequenina. Que desenrolava um grande novelo, um grande novelo de fio de aço. As mãozinhas, delicadas, pequeninas, repetiam os pequeninos movimentos. Confiou na habilidade empírica, adquirida da mecanização do processo, que se prolongava infinitamente. Cegou de confiança, continuou. O aço, que lhe fugiu das mãos, cortou-lhe as maõzinhas, delicadas, pequeninas.