quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Limi(a)trofia

Porque será que nenhum dos livros que passaram pela minha vida me ensinaram a manter-me como um pássaro num fio de electricidade?
Não quero asas, não. Asas doem. Quero apenas conseguir manter os pés num chão.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Bússola II

Estava perto. No fundo de uma daquelas caixinhas que temos à vista, mas que de tão presentes se esquecem. Dobrada cuidadosamente, repousou ali - segura - todo o tempo que precisei de seguir por outros lados até concluir que segui-la-ía novamente. Está empoeirada, algo amarelecida como todos os papéis deliciosos - escritos antes de nascermos - que nos contam coisas que os antigos sabiam serem certas para mim antes de Eus mesmos termos entendimento. A bússola, tosca, marca o Norte - firme, certa. Encontrei a Carta de Marear, e ela mostra-me a rota, ainda que enevoada pela poeira. Está na hora...

terça-feira, 22 de março de 2011

Lasciami vivere!

Solta-me. Desata os nós que foste apertando mais e mais ao longo do tempo em que precisaste deles para não cair no abismo que está no fundo de ti.  Nós estrangulam, e um humanamente animal sentindo-se acossado ataca, sem contemplações, sem medos, sem pudores. Os sedativos esbateram-se, diluíram-se na corrente, e hoje sinto-me viva. Viva e com sede de viver, de ser, de ver, de sonhar o que vou viver  e o que quero ser.  E quero, muito – mais que nada – sentir a glória da quebra dos grilhões, sentir a madrugada. Quero as minhas asas, que tenho, que sinto, que vejo e que estão trôpegas de carregar chumbo para não voar.
Espera. Tu não me prendes. Eu mantenho-me cativa voluntáriamente, cativa de ignobilidades que deveria nunca ter considerado possíveis. Voar? Agora.

Bússola

Guardei a minha Carta de Marear dentro do meu cosmos. Fi-lo com tanto afinco que a perdi, dentro do Eu. Tento, e erro, navegar usando as trilhas que outras cartas me impõem que siga. Trilhas clarividentes, cheias de certezas e conjunturas cheias de si.
Não perdi, nunca, a minha bússola. Tosca, nem sempre apuradamente me mostra o Norte, mas que guiando-me entre caminhos alheios ao Eu nunca me deixou fugir do meu Oriente... Grita. Grita e zune cada vez mais pedindo-me que descubra as linhas que me foram traçadas e que me levarão aonde pertenço. Mas...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Perspectivas

Ás vezes um simples raio de sol é suficiente para alumiar um abismo. Ainda que seja momentânea a sensação de calor e luz, mostra uma nesga do que está do outro lado do véu. E sim, esses momentos são aqueles que, no fundo do abismo, me levam a continuar a puxar o fio de aço.

Let the sunshine in...

Perspectivas

Ás vezes um simples raio de sol é suficiente para alumiar um abismo. Ainda que seja momentânea a sensação de calor e luz, mostra uma nesga do que está do outro lado do véu. E sim, esses momentos são aqueles que, no fundo do abismo, me levam a continuar a puxar o fio de aço.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Era uma vez... II

Ainda que dolorosamente, depois de cortar-se, a menina pequenina continuou a sua demanda em torno do novelo de fio de aço. Mesmo sangrando, sentia a necessidade imperiosa de prosseguir, de terminar, e transformar o metal finíssimo num círculo. Fechado, acabado, perfeito, para que pudesse admirar o seu feito, de dentro de si mas fora da forma de aço.
O fio cantava-lhe melodias ora  maviosas, ora assustadoras. Os pequenos-grandes olhos de ébano enchiam-se de lágrimas, para logo de seguida sorrirem, com aquele ar de anjo que ouve cânticos do Céu. O percurso é um tortuoso carrocel, orientado por uma bússola impassível, como tudo o que rodeia a petiz de fora do seu círculo de si. Ainda assim, as pequeninas mãozinhas cor-de-cera continuam, debelando a rebeldia do fio, do grande novelo de fio de aço.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Era uma vez...

Uma menina, pequenina. Que desenrolava um grande novelo, um grande novelo de fio de aço. As mãozinhas, delicadas, pequeninas, repetiam os pequeninos movimentos. Confiou na habilidade empírica, adquirida da mecanização do processo, que se prolongava infinitamente. Cegou de confiança, continuou. O aço, que lhe fugiu das mãos, cortou-lhe as maõzinhas, delicadas, pequeninas.