terça-feira, 16 de novembro de 2010

Daguerreótipo

A minha avó - figura frágil porém baluarte - trouxe sempre consigo um medalhão dourado ao peito. Dizia, com a candura que lhe marcava todas as palavras, que a sua avó havia carregado o mesmo cordão de seda com a oval finamente bordada até ao dia em que ela o herdou.
O fascínio que tem aquele rosto - recortado entre tons sépia, com um ar severo e o olhar altivo, inquirindo quem o fita - vivo, apesar dos seus mais de cento e vinte anos; não se explica. Sente-se. Não o conheço, nada dele conheço a não ser a enorme bruma da qual se agigantam os mitos que me contam como sendo ele, o senhor que tinha asas.
Sei, que como a minha avó, vou carregar pendurado ao peito o passe-partout com a responsabilidade que ser dali encerra. Não sei, jamais saberei, se tive asas grandes para a levar até à próxima. A menina que vou sentar ao meu colo, que tem os olhos altivos, inquirindo-me quando a fito - vivos, como só tem uma criança com as estrelas dentro do seu firmamento - e lhe conto as lendas, que ela um dia entenderá.

2 opiniões:

Ana Castella disse...

Brízida,

Bem vinda à Blogosfera :))

Parece-me que Daguerre iria gostar da tua máquina... Retorno os parabéns.

Bjs

Brízida Caramelo disse...

Obrigada Ana :)

Beijinhos